sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Motivos


- Qual o motivo de você não gostar dele?
– Você vai achar o meu motivo ridículo.
– Eu já te acho ridícula.
- Certo, eu vou contar...



Eu tinha 7 anos. 6 talvez? Não sei como consigo me lembrar de tudo isso tão bem... Enfim, havia feito um ano da morte da minha mãe. E ela era amiga de uma mulher simpática que sempre levava seus filhos até minha casa. Seus dois filhos tinham a minha idade e sempre ficava brincando comigo. Mas teve um dia que eu chorava muito. Saudades de minha mãe. Naquele dia, a amiga de minha mãe fora nos visitar para consolar o meu pai e minha avó; apesar de meu pai nem necessitar de consolo. Ela havia levado apenas um filho. E aquele filho sozinho foi até mim já me chamando para brincar de lutinha, minha brincadeira preferida já que eu sempre ganhava.
Mas não estava ansiosa para brincar. E ele havia percebido isso. Por incrível que pareça, ele caminhou até mim e me abraçou. Disse para mim não chorar que aquilo era coisa de bebê e depois correu até a mãe. Pediu para ela que o desse algo. Logo depois ele voltou com dois anéis pirulitos. Sabe, aquele anel que tem a pedra feita de caramelo. Então ele perguntou qual era o meu sabor favorito. Disse laranja. E ele respondeu: "Ei! Esse é o meu sabor favorito! Pensava que só eu gostava de pirulito de laranja. O meu primo só gosta de morango. Odeia laranja. Então só tenho um de laranja e outro de morango." Ele havia me entregado o pirulito de laranja. Mas como ele havia dito que era o seu sabor preferido, dei meu pirulito para ele. Lembro que ele sorriu e disse: "Certo então. Já que eu vou ficar com o de laranja vamos combinar de quando a gente estiver grande vamos nos casar. Aí compro um montão de pirulito de laranja para nós dois!" Ele pôs o anel de morango em meu dedo e o de laranja em seu próprio. Ele deu uma lambida em seu pirulito e disse: "Esse vai ser o nosso anel até o casamento!" Eu ainda fungava um pouco, então ele completou: "Quando nos casarmos, você nunca vai chorar, não vou deixar!". E nisso foi embora para a casa com o seu anel no dedo e ao mesmo tempo na boca.
"Essa história á fofinha. Mas ainda não entendi o que essa história tem conexão com ele."
Aí é que tá. Já fazia umas semanas que ele não aparecia e eu havia guardado o meu pirulito no meu esconderijo secreto esperando por ele. Então resolvi perguntar a minha avó sobre ele. Ela havia me informado que eles não eram irmãos assim como eu havia pensado. Eram primos. Mas eles eram idênticos  Perguntei o motivo de naquele dia só havia um garoto. Parecia que o primo era dos Estados Unidos e só tinha ficado 3 anos no Brasil para se acostumar com a cultura da raiz de sua família  Ele já havia voltado até sua mãe no estrangeiro. Minha avó ainda falou que assim que as férias acabassem eu iria estudar com o filho legítimo da amiga da minha mãe. Fiquei muito feliz. Estava louca para que as férias acabassem.
E elas acabaram. No primeiro dia de aula, fui até o garoto com um pirulito de laranja que tinha pegado no arsenal da minha avó e dei para ele. Disse o meu nome e seu comentário foi: "Que nome feio!". Perguntei qual era o seu nome e ele respondeu o mesmo.
Perguntei se ele tinha gostado do pirulito e ele abriu o pacote e pôs o pirulito na boca. Tinha ficado feliz com isso até ele cuspir o pirulito no chão e gritar: "Eca! Odeio laranja!". Então comecei a chorar e perguntei por que ele então queria casar comigo. Quando eu disse isso, ele começou a rir da minha cara.

- Isso não é motivo o suficiente para ter raiva dele.
- Pra mim é.
- Passou-se anos. Não guarde rancor. Como eu disse: isso não é um motivo grande o suficiente.
- E como eu disse: pra mim é.

Um comentário:

  1. Bom dia Lu *-*
    que história linda. É, tem coisas que podem passar anos que SEMPRE iremos lembrar!
    http://maybe-i-smiled.blogspot.com.br/

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