terça-feira, 6 de novembro de 2012

Perfeição



Ela chorava. Porém chorava por dentro. Por fora apenas sorria debilmente.
E o garoto chegou com um soverte de casquinha para ela - chocolate. Odiava esse sabor, mas continuou a sorrir como se fosse a miss perfeição - o que ela quase era. Preferiria baunilha, mas aprendera que não se deve dizer nada que não fosse adequado.
Ele se sentou a sua frente e a menina forçou ainda mais o sorriso. Uma boa garota perfeita não se deve nunca deixar de sorrir.
Apenas os sorridentes são perfeitos. E os perfeitos devem sempre sorrir para demonstrar perfeição.
A menina derrubou um pouquinho do sorriso ao pensar o quanto odiava ser perfeita, mas logo se recompôs.
Os perfeitos não podem odiar. Nem reclamar. Muito menos chorar.
Perdera a vontade de sorrir assim que recebeu a designação de sorrir em todo tempo. Quem se alegraria com isso?
O garoto conversava e sorria - um sorriso verdadeiro. Como ela queria ter aquele sorriso. Como ela queria chorar por não ter um sorriso verdadeiro. Como odiava não poder chorar.
Mas os perfeitos não odeiam. Ou choram. Ou invejam, afinal já são perfeitos.
Ela passara muito tempo sendo perfeita. Seu ser clamava pelo não-perfeito, pela humanidade. Clamava pela perfeição que era a imperfeição.
Uma coisa ela sabia que nenhum outro perfeito sabe: só existe um perfeito, que é Deus. Como um reles humano poderia um dia se chamar de perfeito?
Como Fernando Pessoa já dissera: "Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é desumano. O humano é  imperfeito."
Por que mesmo ela não podia ser imperfeita? Qual era o motivo dela não ter o direito de ser humana?
Ela queria se atirar ao menino, derramar todas as lagrimas que já segurara. Queria gritar e bater pé. Queria pular e gargalhar. Queria socar tudo o que vinha pela frente, queria abraça-lo tão fortemente que deixá-lo-ia marcas.
Mas não o fez. Queria fazer, mas não conseguia. Ela só conseguia desejar e mais nada. Não fazia não pela perfeição, o que naquele momento abandonara, mas fazia.
Já aprendera a sangrar por dentro e sorrir debilmente por fora - o que foi um erro.
Quando se aprende não se abandona.
Pelo menos ela conseguiu soltar um verdadeiro sorriso por minutos.
Isso era uma imperfeição; era uma imperfeição que fora marca da perfeição antiga.
Ela agora só precisava aprender a conseguir chorar, conseguir odiar, conseguir gritar!
O garoto continuava a sorrir e contar as suas piadas sem nexo. Quando a garota aprender - disse ela a si mesma - iria ser a menina (in)perfeita para ele. Por enquanto ele teria que a esperar.
Mas 'té lá...
Ela chorava. Porém chorava por dentro. Por fora apenas sorria debilmente.

Um comentário:

  1. Ficou muuuuuuuuuuuuuuuuuito bom.Gosto tanto dessas coisas 'doentias', essa garota deveria experimentar chorar debilmente também, quem sabe a ajudasse a ser imperfeita do jeito que queria ser.
    Moça cuidado com as repetições ><
    http://maybe-i-smiled.blogspot.com.br/

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