segunda-feira, 25 de julho de 2016

Olhar vazio


A menina tem se sentido tão vazia... 
Não consegue mais ver beleza em si.
Nem por dentro, nem por fora.


   Ela estava com o rosto enterrado entre os lençóis da cama, de novo.
   Às vezes ela chora sozinha à noite, com o rosto pressionado contra o travesseiro, para afagar o som dos soluços desesperados e involuntários e para as lágrimas serem enxugadas pela fronha. Muitas vezes não sabe por que chora, só sabe que chora, algo está doendo dentro dela, algo se quebrou, alguma luz não brilha mais. Ela chora sozinha à noite por que se sente tão só, rodeada de gente e tão aquém. Alvo da indiferença, a deslocada de qualquer grupo. Não queria estar sozinha, mas só sabe ser assim. Numa luta contra a própria essência, não sabia se queria se igualar a todos ou ser única de algum jeito. Temia ser quem era por medo da decepção. Decepcionar a mãe, o amigo, a sua admiração, o crush, alguma entidade divina que olha para ela do alto e balança a cabeça demonstrando a reprovação que sente em ter posto alguém tão fraca no mundo.
   A verdade é que ela só queria escutar que era linda. Que não tem problema esse seio pequeno, que a estria na coxa é um belo desenho e as cicatrizes que ela desenhou em si mesma em atos desesperados eram apenas um lembrete de que ela é profunda e forte. Ela só queria que alguém olhasse para ela e visse mais. Mais que a nota 10 em Matemática no seu boletim. Alguém enxerga a paixão que transmite a cada passo numa dança? Alguém vê em seus olhos a dor de não saber mais o que é amor? Ah!, ela já acreditou no amor, agora não sabia mais. Parecia ser apenas uma palavra bonita para uma triste certeza que iria machucar alguém, uma forma de romantizar essa faca de dois gumes fatais, amar é doloroso e não amar é tão quanto.
   Uma tentativa dela de se sentir bonita, bem consigo mesma, estilosa e com personalidade era por meio das roupas. Ela tentava se vestir da maneira que a agradasse. Mas eram apenas tentativas. Sempre mais e mais tentativas. Não conseguia se sentir completa, não via beleza em seu guarda roupa. Não via beleza no espelho, evitava-o sempre que desse... Era coisa da cabeça dela ou toda aquela escuridão que ela prendeu, acumulou, escondeu dentro de si durante sua vida estava saindo para fora, deixando seu exterior tão podre quanto dentro? Meu Deus, isso era desesperador.
   Ela se sentia hipócrita a se achar digna de chorar por si, sabia que tinha tanta gente pior por aí, que outros tantos sofriam com eles mesmos. Ela não tava sozinha... Mas não conseguia ver. Sabia dos outros, mas talvez o egoísmo humano não a permitisse sorrir por si mesma, só chorar pelo mundo, pelo seu mundo, pelo mundo que não permitia visitações.
   "Menina, para com isso, levante da cama, enxugue suas lágrimas, não desista.", falou para si mesma entre sussurros que sabia que não concertaria o erro em si, mas era um bom mantra para conseguir sair do quarto.
  Esfregando o rosto, foi caminhando até a cozinha pegar um copo de suco gelado, era 3 horas da manhã e ainda não conseguira dormir, afinal, tantos pensamentos passaram pela sua mente conturbada. Na cozinha, tinha um micro-ondas que era tão reluzente que servia de espelho e quando passou por ele, a menina se perdeu na sua imagem distorcida que também a encarava de volta com olhos tão... vazios.
  Os olhos não tinham brilho, não tinham nada, eram apenas a entrada de um grande buraco, uma espaço desabitado. Seria os olhos a janela da alma? Se fossem, cadê a alma da menina? Ela só enxergava um vazio, um escuro desocupado e tão feio, um vazio tão cheio de nada. E ali, na frente de um micro-ondas no meio de uma madrugada triste, do olhar vazio surgiram lágrimas, choro pelo interior desguarnecido que ela encontrara em si de novo.

|luíza morais|

Um comentário:

  1. Esse é eu e voce quando ta muito depressiva.:/ oie lembro sim de voce luiza mas seu blog mudou muito demorei um tempo pra reconhecer mas aceito sim a afiliaçao ja te add la no blog ^^ Mas serio quanto tempo n venho aqui sentido muitas saudades
    kissus You Like?

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