Antes do fim, a surpresa

Já perdi as contas de ter sido submetida a simples idéia de que devemos viver
Afinal, temos que viver
Temos que viver?
Não sei se isso é um sentimente comum
Mas sinto que nada do que dizem ser importante fazer
Deve ser feito
Exatamente por exigirem que façamos


Ticando quadradinhos de uma lista pré-definida
Antes mesmo de nascermos
Que será melhor sensação?
A do dever cumprido?
A de seguir o coração, intuição?
Mesmo que já fomos avisados o quão enganosos podemos ser
Novamente, tudo pré-definido

Não quero simplemesmente fazer
Fazer e esperar que todos em volta batem palmas
A tudo aquilo que realmente não quiz fazer
Foi apenas algo que julgaram que deveria fazer, pelo meu bem maior
E sem perceber, fazer de acordo com o julgamento
Não me importo realmente com o fim
Pra quê, no começo, saber como tudo termina?

O importante não é o fim do relacionamento
O final de um livro
Antes de levantar, temos que cair
Ao observar qualquer um na rua, percebemos que todos esqueceram
Do prazer de vencer, lutar, tentar novamente
E de novo
Mesmo no meio-tempo da história

E no final das contas, não quero qualquer final
Sem entendimento, acerto de contas
Sem tomar decições por mim mesma
Pode até existir o 'Era uma vez...'
Devemos (ou não) começar do começo
E aproveitar o meio-tempo
Aquilo que realmente me agrada

O meio-tempo que durou para que pudessemos compreender
E que levei para tomar qualquer decição
A caminhada da minha casa até a de uma amiga
Uma música cantada em baixo do chuveiro
De mim comigo mesma de frente a um espelho
Ao esquecer uma torneira aberta
Ao sentir o coração pulsando, murchando

Pois tudo isso faz parte de um intermédio
Da causa e razão
Não de uma simples consequência
Imposta e proposta
Devemos olhar pra cima
E esperar a reviravolta, a surpresa acompanhada
A parte predileta de qualquer história já contada